Dei uma de Sherlock Holmes.
Esse fato aconteceu comigo quando eu estava no terceiro ano de Direito,
nesta época eu já havia superado o entusiasmo do primeiro ano, quando o aluno se sente poderoso, que acha que já domina todo o conhecimento das leis, que pode se impor, mandar prender e soltar etc..
Eu gostava muito de estudar, eu gravava as aulas para depois ouvi-las novamente, coisas de aluno que sabe dar valor ao sacrifício e ao investimento.
Chegou o dia da prova de Processo Penal, a minha turma de estudos estava reunida, discutindo vários assuntos que poderiam cair na prova.
Percebemos quando o nosso colega Reginaldo, chegou todo sorridente e assoviando, aquilo me chamou a atenção.
Enquanto todos estavam uma pilha de nervos, ele chegou como se fosse um dia normal.
Aquilo me deixou intrigado, porém me concentrei em meus estudos, depois da prova comentei com o Pedro, meu amigo, sobre a minha percepção a respeito do Reginaldo.
Passado algumas semanas o professor entregou as notas, ao ver o sorriso no rosto dele, passei pelo corredor onde ele sentava e consegui ver a nota DEZ que ele havia tirado.
Passei a observar o seu comportamento, ele faltava muito, mas nos dias de provas ele estava lá.
Combinei com o Pedro para seguirmos ele, pois achava inacreditável que tirasse nota dez em praticamente todas as matérias.
Quando o Reginaldo saia para ir embora, as vezes mais cedo, outras no horário normal, lá estávamos nós o seguindo.
Durante quatorze dias foi a mesma rotina, sem novidades, até que na véspera de uma prova, o surpreendemos entrando no carro da Coordenadora do Curso.
Aquilo nos intrigou muito. Não sabíamos qual era a relação dele com ela, a princípio pensamos que seria um caso amoroso.
Conversaram por alguns minutos, depois ele saiu do carro com um envelope nas mãos.
No dia seguinte ele demonstrou o mesmo comportamento, alegre e sorridente, sem preocupações com a prova de processo civil.
Quando o professor divulgou as notas, não deu outra, mais um dez.
Aquilo me intrigou ainda mais, precisava de respostas para algumas questões: Qual seria a ligação dele com a Coordenadora? O que continha no envelope? Teria ele um QI tão elevado?
Começamos pelo mais fácil, o nome completo da Coordenadora, constatamos que os sobrenomes eram diferentes, não tinhamos acesso para confirmar a filiação deles, só nos restava descobrir o que havia no envelope.
Já sabíamos que eles se encontravam somente perto dos dias de provas, seguimos ele a semana toda, e quando ele entrou no carro da Coordenadora, dei sinal para um rapaz que contratei, para pegar o envelope, assim que o Reginaldo saísse do carro.
E assim foi feito, com um rapidez impressionante, o rapaz tirou o envelope das mãos do Reginaldo e sumiu na escuridão do estacionamento.
Quando eu e o Pedro abrimos o envelope, bingo. Era uma cópia da prova que seria aplicada no dia seguinte.
Resolvemos ir até a direção da Universidade e falar abertamente com o Diretor, que a princípio queria por panos quentes. Porém, afirmei para ele, com argumentos convinventes, que queria os dois ali, para conversarmos juntos.
Assim foi feito, ambos chegaram nervosos, quando me viram perguntaram o que estava acontecendo.
A Coordenadora quis se impor e logo a contive, dizendo que ela não estava em posição de exigir nada.
Pois bem, intimei o Diretor para substituir a Coordenadora do Curso, caso contrário eu levaria o caso para a mídia.
A prova foi cancelada e remarcada para a semana seguinte, desta vez ninguém tinha conhecimento das questões que seriam aplicadas.
Dois dias depois, ela foi substituída e também não vimos mais o Reginaldo.
O Diretor acabou nos confessando a Coordenadora e o Reginaldo são irmãos por parte de pai, por isso o sobrenomes diferentes.
É muito provável que ele tenha se transferido para outra unidade, juntamente com a Coordenadora.