Carlos Alberto Santos
Viaje entre sonhos e poesias
Textos
A medalha da minha vida.

Os fatos que vou relatar realmente aconteceram comigo e até hoje a medalha está comigo, somos inseparáveis.
Coincidência ou não, o fato é que existe uma força maior nos guiando pela vida afora, e eu pude comprovar em algumas etapas da minha vida, as quais compartilho com vocês.


A viagem de férias.

As lembranças ainda estão vivas em minha memória, recordo perfeitamente do dia em que minha esposa me presenteou com uma medalha com a face de Cristo, acompanhada de uma fina corrente de ouro. Era o meu aniversário de 40 anos, fiquei muito feliz com o presente e naquele momento nem imaginava o que viria pela frente.

Acionei o controle remoto, mas o portão não abriu, pudera depois daquela tempestade que acompanhamos pela tv, não tinha dúvida que isso pudesse acontecer, o motor havia queimado.

Desci do carro, quando percebi algo reluzindo aos meus pés, abaixei para pegar, era a medalha que eu havia perdido. Fiquei sem entender nada, mostrei para a minha esposa que não acreditou.

Há quinze dias atrás saímos com destino ao litoral, nossa intenção era passar duas semanas explorando as praias de Ubatuba, começando pela praia das Toninhas, Domingas Dias, Félix, Lázaro e para finalizar ir até a praia da Almada no litoral Sul.

Quando já estávamos na estrada, passei a mão pelo pescoço e dei por falta da minha correntinha. Comentei com todos, que tentavam me tranquilizar, dizendo:
- Calma, ela deve estar caída dentro do carro, quando chegarmos você procura.

Segui o resto da viagem angustiado, pois já tinha um apego muito grande com a minha medalha.

Chegando ao nosso destino, a procurei por várias vezes, mas não estava dentro do carro.

Tentei me divertir durante aquela semana, mas a medalhinha não saia da minha cabeça.

A noite estávamos todos na sala e entre uma conversa e outra, procurava assistir ao jornal, de repente todos ficaram em silêncio, pois a reportagem era sobre a nossa cidade.

Imagens de uma forte tempestade, vendaval e ruas alagadas, carros sendo arrastado, pela fúria da natureza.

Aquela notícia deixou todos atônitos, estragou com a nossa noite e de comum acordo resolvemos regressar para ver se estava tudo em ordem em nossas casas.

A viagem de volta parecia interminável, as horas não passavam, mas finalmente chegamos, dava para perceber que a chuva foi intensa, a garagem estava cheia de folhas e com muita água, dando sinais que foi muito forte.

Até hoje não entendo como minha medalha estava na calçada, como a enxurrada não a levou, como ninguém a viu, foram dez dias que ficamos fora, é impressionante, parece que ela estava esperando por mim.

Lavando a roupa.

Aproximadamente um ano após esse episódio, havia descido até a lavanderia para colocar algumas peças de roupa na máquina de lavar.

Aproveitei e tirei a camiseta que estava usando e a coloquei junto com as demais peças.

Quando fui tomar banho, instintivamente levei a mão ao pescoço para tirar a correntinha, foi neste momento que dei por falta da minha medalha, a procurei pela casa inteira e não achei.

Minha esposa avisou que a máquina já havia dado sinais que estava finalizando a lavagem, e perguntou se eu podia estender as roupas.

- Claro querida, deixa comigo.

Para minha surpresa, ao retirar as roupas, a medalha estava enroscada no fundo da máquina, a correntinha deve ter se partido quando tirei a camiseta, mas a medalha estava lá, em perfeito estado.

Por sorte ela não foi expelida com as várias trocas de água, durante o processo de lavagem da roupa.

Não conseguia entender, mas a minha medalha parecia que voltava para mim, não importava o que acontecesse. Passei a tomar mais cuidado e agradecer a Deus pela minha proteção e a de todos os meus familiares.

O jogo de futebol.

Eu ainda estava no período de licença, pelo falecimento do meu pai, era uma manhã do dia 23/6/2016, aproveitei e fui resolver alguns problemas no Cartório.

Quando chegou a minha vez, fui até o balcão, quando senti uma tapa nas costas.

- Carlos, quanto tempo.
- Oi Celso, não tinha lhe visto;

Continuamos trocando algumas palavras e dividindo a atenção com o atendente.

Após muita insistência ele me convenceu a ir jogar futebol e rever os amigos do time, de quase vinte anos atrás.

- Celso, assim que me recuperar da perda do meu pai, prometo que irei.
- Carlos, você deve se ocupar, o futebol talvez seja um remédio para superar está fase.
- Faz tanto tempo que não jogo, nem sei se consigo.
- Duvido Carlos, você era o nosso melhor jogador.

Depois de alguns meses, resolvi aparecer, meio sem jeito, fui apresentado ao pessoal, algumas pessoas eu ainda da nossa época ainda estavam lá, mas tinha muita gente nova.

De fora da quadra, ouvia o Celso todo orgulhoso.

- Estão vendo, ele ainda é o craque daquela época.
No domingo seguinte nos reunimos no centro da quadra, como fazíamos sempre, o Mário deu alguns recados, e começamos a rezar o Pai Nosso e em seguida a Ave Maria.

Naquele dia e esqueci de tirar a minha correntinha, e durante o jogo senti ela escorregar pelo meu pescoço.

A segurei, mas a medalha não estava pendurada.

Depois do jogo, comecei a procura-la pela quadra, centímetro a centímetro e nada.

- Carlos o que você está procurando? Perguntou-me Renato.
- A minha medalhinha, o rosto de Cristo.
- Eu achei, coloquei ali em cima do muro.

Corri imediatamente para onde ele apontou. Minha medalha estava ali, como que esperando por mim.

Pela terceira vez ela voltava para mim. Algo tão inesperado, inexplicável para o meu entendimento. Como algo tão pequeno não passou despercebido pelo Renato?

Viagem a trabalho.

Parei de reclamar das viagens a trabalho, me acostumei a sair da rotina, a troca de ambiente é saudável, nos desacelera por alguns dias.

A multidão no aeroporto, os minutos de espera até o embarque, onde não penso em nada, apenas relaxo, deixo a minha mente aberta, como esse momento de reflexão tirasse um peso enorme dos ombros.

Sei que ao chegar ao meu destino, a pressão volta, inúmeros assuntos a tratar, problemas para resolver em poucos dias.

O taxi me deixou no hotel, após deixar minha mala no quarto, tirei a minha correntinha do pescoço, tomei banho e fui jantar.
Demorei pegar no sono, resolvi escrever algumas linhas, dei o nome de:
 
“A Distância”.

Hoje é a distância que nos separa,
Deito e você não está do meu lado,
Disfarço, mas só eu sei o meu estado,
Penso em você e o coração dispara.

Ás vezes a distância nos faz refletir,
Que o amor parece ter adormecido,
E o abraço ter ficado mais comedido,
Mas ele está ali, ainda dá para sentir.

Quero os teus beijos e o seu calor,
O teu olhar fixo em mim,
A tua pele e todo seu frescor.

Sei que logo voltarei,
Essa distância vai chegar ao fim,
E nos teus braços de novo estarei.

 
Fiquei contente com o resultado, pois era um momento meu, único e verdadeiro.

No dia seguinte fiz checkout e fui trabalhar, pois regressaria a São Paulo no mesmo dia.

Chegando ao banco, tive a impressão que estava faltando algo, não sabia o que era, mas a sensação não passava.

Quando passei a mão em meu pescoço, fiquei branco, não lembrei de pôr a correntinha de volta, ficou em cima da mesa, em meu quarto.

Aflito procurei o telefone do hotel, falei com o atendente que me tranquilizou.

- Sr. Carlos a nossa arrumadeira achou a sua correntinha e entregou na recepção do hotel, nos passe o endereço do seu trabalho, que mandaremos lhe entregar.

Minha missão.

Sempre levei a vida de uma forma muito simples, respeitando o próximo, procurando repartir um pouco do que tenho, para fazer o bem sem esperar nada em troca.

Assim como devem agir milhares de pessoas no mundo e nunca pensei ser um exemplo a ser seguido ou me considerar uma pessoa especial.

Talvez não devesse pensar desta forma, pois todos temos uma missão nesta vida, por algum propósito vivemos e vamos descobrir algum dia.

Eu descobri a minha em dezembro/2016, era entre 07:00 e 07:30h da manhã, estava indo trabalhar, eu e minha esposa, minhas filhas ficaram dormindo, já estavam de férias escolares.

Ao ligar o carro, senti um vulto, coloquei a mão em minha medalha, e gritei.
- Deus me acode.

Minha esposa ficou sem entender nada.

Foi como se algo tivesse se apoderado de mim, fechei os olhos, acionei o controle remoto do portão, acelerei saindo em alta velocidade de ré.

Passei pelo individuou que estava descendo a rampa da garagem com a arma na mão, surpreso ficou sem reação.

O carro parou a centímetros de uma árvore do outro lado da rua, não sei como não colidi. O segundo individuo tentou abrir a porta de traz do lado do passageiro, mas já estava travada.

Então ele mirou a minha cabeça e atirou.

O projetil atingiu a coluna do carro e por pouco, muito pouco não me feriu.
Neste momento, vários vizinhos haviam saído na janela, pegando a cena no fim, ligaram para a polícia que chegou rápido, mas não a tempo de perseguirem os assaltantes.

Acho que a minha missão foi proteger a minha família, não sei o que poderia ter acontecido se entrassem em casa, em nenhum momento pensei nos bens materiais, somente em evitar um mal maior.

Você pode ou não acreditar, mas uma coisa é certa, a fé remove montanhas e faz a gente realizar coisas que parecem impossíveis.
Calbertosantos
Enviado por Calbertosantos em 18/08/2018
Alterado em 18/08/2018
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
Comentários