O mistério da caixinha d'água.
Nos séculos XVIII e XIX, a tribo dos Guaranis habitava o interior do Paraná, mais especificamente onde hoje se situam as cidades de Jacarezinho e Ribeirão Claro.
Diz a lenda que naquela tribo havia uma índia muito bonita, seu nome era Potira. Potira era muito amiga de Caiová, a filha do Pajé.
Caiová era apaixonada pelo cacique Caiubi e fazia de tudo para chamar sua atenção, mas nada parecia fazer efeito, e ele só tinha olhos para Potira.
Ela, mesmo apaixonada por Caiubi, fazia de tudo para esconder seus sentimentos e não contrariar sua amiga. No entanto, um dia o amor falou mais alto e os dois se renderam ao sentimento até então reprimido. O que não sabiam é que Caiová havia presenciado tudo e, furiosa, pediu ao Pajé, seu pai, para afastá-los.
Pajé preparou uma emboscada para matar Potira. Planejou que, assim que ela passasse pela trilha em direção à sua cabana, soltaria uma onça faminta para devorá-la.
O que o Pajé não esperava é que Caiubi fosse acompanhar Potira no trajeto. Ao soltar a onça, Caiubi se colocou à frente de Potira e a mandou correr. Ela se salvou, mas ele não teve a mesma sorte e foi devorado pelo animal em fúria.
Ao descobrir que Caiová havia sido a responsável pela morte de Caiubi, Potira entrou em desespero, começou a chorar e não conseguiu mais parar. Chorou até morrer e suas lágrimas se transformaram em um riacho.
Quando Caiová bebeu da água do riacho, viu os fantasmas de Caiubi e Potira e saiu correndo em direção à aldeia. Misteriosamente, sua trajetória foi alterada e, ao perceber que estava no sentido contrário, em direção ao desfiladeiro, tropeçou pelo caminho e rolou para o precipício. Nunca mais ouviram falar dela.
O tempo passou, a paisagem se modificou durante os anos, mas o riacho continuou sempre com a mesma pureza de outrora.
Com o passar dos anos, a região foi se desenvolvendo. Uma estrada foi construída no local em que apenas existia uma trilha para ligar Jacarezinho a Ribeirão Claro. O riacho foi canalizado e suas águas passaram a ser levadas para uma caixinha que se encontrava na beira da estrada.
Os habitantes da região sempre paravam para saborear aquela água cristalina quando passavam pela estrada, mas o mistério da caixinha ainda permanecia e nem todos tinham coragem de parar por lá durante a noite.
Na década de 90, ocorreu um fato inusitado com uma família daquela região, que foi muito comentado durante vários anos. O episódio envolvia a família do Sr. Cleinaldo, sua esposa Mazir, seus dois filhos pequenos, Marcelo e Fernando, e seus sogros, Sr. Marciano e Sra. Elide.
Por volta das 22h, resolveram ir até Ribeirão Claro, onde vários artistas locais participavam de um festival de música regional. Era inevitável, seria preciso passar em frente à caixinha d'água, pois aquela era a única estrada que ligava as duas cidades.
Quando passaram perto da caixinha, todos estavam concentrados, para não dizer apavorados. De repente, avistaram um grande clarão. Todos gritaram ao mesmo tempo e o susto foi enorme.
Foi naquele momento que Cleinaldo acelerou o veículo para sair daquele lugar, olhava pelo retrovisor e via a caixinha cada vez menor. Depois de alguns minutos, percebeu que o carro havia mudado de direção e que, ao invés de seguir em direção a Ribeirão Claro, estava voltando para Jacarezinho.
Muito assustado, Cleinaldo chegou a Jacarezinho e nenhum deles conseguiu dormir naquela noite, acreditando que de alguma forma haviam sido salvos de um mal maior.
Acompanhando o noticiário no dia seguinte, ficaram sabendo que a ponte que deveriam cruzar para chegar a Ribeirão Claro havia caído. Com a escuridão daquela noite, não seria possível parar a tempo e evitar um acidente. Certamente cairiam no rio.
Hoje a família é agradecida pelo ocorrido e acredita que, de alguma forma, Potira interveio para salvá-los. Eles não têm mais medo de se aproximar da caixinha, pois sabem que há uma força maior que atua a favor do bem.
A cidade ainda comenta o fato e a caixinha continua sendo um mistério até os dias de hoje.